A conquista do Pacífico, 1943 a 1945
Na primavera de 1943, o Sol Nascente ainda tremulava orgulhoso sobre a ampla extensão territorial do recém-adquirido Império Nipônico. A área de domínio japonês fora bastante ampliada, em tempo ridiculamente pequeno, com a captura de Hong-Kong, da Malásia, de Cingapura, das Índias Orientais Holandesas, da Birmânia e das Filipinas. O exército japonês espalhara-se pelo Extremo Oriente como tinta num mata-borrão particularmente absorvente, deixando a impressão, pelo menos por algum tempo, de que força alguma o bateria. Dentre as inúmeras conquistas que fez, dobrou, algumas vezes, forças numericamente mais poderosas, sempre confiante na vitória final e totalmente convencido da justiça da causa por que lutava. Com moral elevado, o exército nipônico fazia prevalecer o seu adestramento e a sua disciplina em combate sobre as forças que enfrentava, forças que, em desespero, pareciam afogar-se nas ondas de mar cheio levantadas pela máquina de guerra do Japão.
Mas, ainda na primavera de 1943, os japoneses já haviam provado o amargo sabor da derrota. Doze meses antes, em junho de 1942, eles haviam sofrido um grande revés, no encontro com a Marinha dos Estados Unidos, na Batalha de Midway. Os americanos complementaram o êxito obtido no mar com um ataque a Guadalcanal, em agosto - as primeiras demonstrações do vigor de um jovem gigante que em breve se transformaria na maior força do Pacifico. Começava agora o que o Dr. Kennedy chama de a "Terceira Fase" da guerra do Pacífico - a reconquista dos territórios anexados pelos japoneses.
Que caminho os americanos deveriam tomar? Seguir a linha Filipinas-Nova Guiné, ou atacar pelo Pacífico Central, capturando os vários grupos de ilhas da Micronésia? Qual destes dois eixos seria o mais eficaz na luta por subjugar o novo Império Japonês? Cada rota tinha seus defensores e na "Conferência Tridente", realizada em Washington em maio de 1943, decidiu-se em favor de um avanço pelos dois caminhos, o que acabou sendo uma escolha sensata e proveitosa. Com tantas e tão espalhadas possessões, os japoneses tinham dificuldade em prever a direção do próximo ataque americano e, com duas linhas de avanço para seguir, os americanos podiam mantê-los na incerteza.
A reunião de forças e material bélico suficientes para a ofensiva em duas pontas era, em si, uma tarefa de proporções gigantescas. Os Estados Unidos dispunham de recursos industriais para produzir as armas de guerra necessárias para lhes dar esmagadora superioridade material. E quando esta enorme capacidade industrial se somasse ao gênio natural para a organização do americano, poder-se-ia então prever o resultado da guerra no Pacífico. A derrota do Japão era inevitável.
Para se apresentar um quadro completo da guerra no Extremo Oriente, é preciso incluir as operações dos britânicos na Birmânia e as campanhas desenvolvidas na China. Na Birmânia, como nos outros locais, os japoneses lutaram sempre com muita coragem e obstinação, tornando a campanha extremamente difícil e violenta. Os britânicos haviam experimentado, nesta frente, inovações, como as colunas dos "Chindits", criação de Orde Wingate, que operavam independentemente, travando guerra de guerrilha atrás das linhas inimigas e recebendo os suprimentos de que necessitavam por pára-quedas. As tentativas feitas no sentido de ampliar este método de guerra com o estabelecimento de enclaves dominados pelos "Chindits" bem dentro do território inimigo tiveram menos êxito, mas o abastecimento por via aérea das tropas de terra revelou-se uma tática bastante proveitosa e contribuiu muito para que os britânicos conseguissem vitórias, como em Imphal e Kohima, quando o abastecimento das forças convencionais foi feito por este sistema.
Embora as operações britânicas na Birmânia fossem importantes, e muito contribuíssem para o desfecho que teve a guerra contra o Japão, seriam os americanos que desenvolveriam a grande estratégia e levariam a guerra cada vez mais para perto das ilhas metropolitanas japonesas. Eles detiveram a marinha nipônica numa série de grandes batalhas navais, das quais a de Midway e a do Mar das Filipinas foram indiscutivelmente as mais importantes do ponto de vista estratégico. Nesta última batalha, os japoneses perderam três porta-aviões, tiveram grande número de navios avariados e, talvez o mais importante, perderam praticamente toda a arma aérea da marinha. Foi esta grande derrota que deixou as Filipinas abertas ao ataque americano.
Assim, a guerra aproximava-se cada vez mais das ilhas metropolitanas do Japão, cujo povo sentia com mais vigor a realidade da guerra moderna, pelos constantes ataques aéreos. Quando os americanos, mudando a tática de bombardeio, passaram aos ataques noturnos de baixo nível, as cidades japonesas começaram a sofrer danos mais graves. Para atingir alvos pequenos e espalhados, o alto explosivo foi trocado por bombas incendiárias, com resultados devastadores. Uma única B-29 transportava 49 grupos de 38 bombas incendiárias, representando um potencial destrutivo assustador. Num ataque a Tóquio, quase 16 milhas quadradas daquela cidade foram destruídas por uma fogueira de que resultou um número de baixas mais tarde estimado em 83.000 mortos e 102.000 feridos.
Durante todo este período de reveses quase contínuos, incapazes de sequer aproximar-se, em termos de produção de armas e munições, dos índices alcançados pelos americanos, com a marinha mercante dizimada por ataques de submarinos e aviões, os japoneses, contudo, continuaram lutando com o mesmo vigor e a mesma obstinada coragem. Houve ataques-suicidas - Kamikazes - num esforço louco por reduzir a superioridade numérica das enormes esquadras americanas. Soldados japoneses jogavam fora a vida em cargas auto-destrutivas que não podiam, de modo algum, afetar o resultado da batalha; todo esse sacrifício foi inútil. Para o Japão a guerra estava perdida. Restava-lhe apenas encontrar um bom pretexto para dobrar os joelhos sem comprometer as aparências. E a primeira bomba nuclear foi lançada sobre Hiroxima. O fato de ele não se render imediatamente levou os Aliados a repetir a terrível prova de destruição em massa com uma segunda bomba, lançada sobre Nagasaki. O Japão cedeu, embora houvesse militares que defendessem a rejeição dos termos propostos pelos Aliados, talvez porque lhes fosse menos penoso o aniquilamento total que a perda da condição de semideuses que desfrutavam.
Este trabalho é uma interessantíssima seqüência do "Inferno no Pacífico" - onde vai narrada a espantosa coleção de vitórias colhidas pelos nipônicos. Com sua costumeira lucidez, o Dr. Kennedy aqui discorre sobre as vicissitudes que tiveram de ser superadas pelos Aliados no teatro de operações do Pacífico, até a cerimônia realizada no convés do USS Missouri que assinalou o dramático final da Segunda Guerra Mundial.
Preparando para a volta Na primavera de 1943, a terceira fase da guerra no Pacifico estava prestes a começar. Na primeira, o Japão triunfou por toda parte, conquistou todo o Sudeste Asiático e o Pacífico Ocidental. Na segunda, tentou ampliar ainda mais o seu controle, buscando tomar a Austrália e o Havaí, experimentando derrotas decisivas, nas batalhas do Mar de Coral, Midway, Guadalcanal e Papua. Devido à perda de quatro porta-aviões da esquadra em Midway, dois couraçados e muitas belonaves menores em Guadalcanal, e de centenas de aviões e suas tripulações em todas as quatro campanhas, era evidente que o Japão teria, na terceira fase, que adotar técnica defensivista; aliás, as ordens operacionais para os comandantes japoneses no Pacífico Sudoeste salientavam que eles deviam "conservar todas as posições nas Salomão e na Nova Guiné". Pela primeira vez na guerra do Leste, os Aliados estavam com a iniciativa, se pudessem usá-la. Mas isto não quer dizer que o fim estivesse à vista para o Japão. Na verdade, a mudança para a defensiva, no começo de 1943, representava apenas a realização do plano originalmente defendido antes que o otimismo da Marinha Imperial a tivesse tentado ir mais além, contra Midway e as Salomão. Este plano - a defesa rigorosa de um anel de bases ilhoas poderosamente fortificado e o rechaço de todos os ataques americanos até que Washington finalmente concordasse em negociar uma paz que reconhecesse as partes essenciais das conquistas do Japão - seria agora submetido à prova. Qualquer que fosse a rota (ou rotas) que os Aliados escolhessem para o retorno, todas sugeriam dificuldades militares. O Japão, com suas primeiras conquistas, cercara-se de anéis concêntricos de defesa que reduziriam a rapidez de qualquer ofensiva e lhe permitiriam explorar suas linhas internas de comunicação, enviar rapidamente reforços para as áreas ameaçadas. No mapa, as possibilidades pareciam muitas, mas a maioria podia ser logo posta de lado. Uma ofensiva da Rússia estava fora de cogitações, pela franca recusa de Stalin em travar guerra na Ásia até que a Alemanha fosse derrotada. Um ataque da China também foi excluído, após muita discussão, devido às dificuldades no abastecimento e à falibilidade geral dos chineses. A rota do Pacífico Norte, geograficamente a mais direta dos Estados Unidos, carecia de bases e estava sujeita a constantes tempestades e nevoeiros. Uma rota de retorno pelo Sudeste Asiático era uma possibilidade, mas não se podia levá-la em consideração, porque as tropas e equipamentos britânicos eram totalmente inadequados para essa tarefa e havia pouca possibilidade de qualquer reforço em grande escala; de qualquer modo, a campanha para tomar a Birmânia, a Sumatra, a Malásia e as Índias Orientais Holandesas poderia demorar muitos anos e, ainda assim, deixar os Aliados a milhares de quilômetros de Tóquio. Com todas essas possibilidades tão claramente inadequadas ou inadmissíveis, restava apenas uma contra-ofensiva pelas vastidões do próprio Oceano Pacífico. Essa rota há muito era considerada a mais provável por outra razão - o fato de se ter evidenciado, desde que se examinara pela primeira vez a possibilidade de um retorno, que os Estados Unidos desempenhariam o papel decisivo. Contudo, ainda não se resolvera se este avanço liderado pelos americanos seria ao longo do eixo Nova Guiné-Filipinas ou através do Pacífico Central, passando diretamente pelos vários grupos de ilhas da Micronésia. As duas rotas tinham seus defensores. O General MacArthur, Comandante Chefe do Pacífico Sudoeste, liderava a defesa da rota pela Nova Guiné. Ele afirmava que esta era mais lógica, não só por já estar sendo realizada pelas campanhas de Guadalcanal e Papua, mas também porque colocaria mais depressa os Aliados em condições de isolar o recém-conquistado império sul do Japão de suas ilhas metropolitanas, sustando, assim, a sua produção de guerra. MacArthur afirmou com veemência que os Estados Unidos tinham o dever moral de reconquistar as Filipinas o mais depressa possível - aliás, isto muitas vezes deixou ele a impressão de que era mais importante do que a própria invasão do Japão - e o caminho para Manilha estaria aberto assim que a Nova Guiné caísse. A rota alternativa não parecia oferecer nenhum objetivo estratégico vital e seria uma operação muito perigosa, expondo as forças de invasão a ataques de um grupo de bases navais e aéreas que os japoneses haviam construído nas ilhas administradas sob mandato. Por último, se se deixassem as forças inimigas ocupando a Nova Guiné e as Salomão, isto alarmaria os aliados dos Estados Unidos, a Austrália e a Nova Zelândia. Por outro lado, a marinha americana via muito valor num avanço pelo Pacífico Central. Em primeiro lugar, isto lhe permitiria empregar seus velozes porta-aviões - cada vez mais numerosos - com muito mais eficiência do que nas apinhadas águas das Salomão e das Bismarcks. Ela rejeitou a noção de que esta rota seria mais perigosa, observando os desenvolvimentos muito importantes nas forças-tarefas de porta-aviões - que tinham o poder de ataque para isolar e dominar um grupo de ilhas e proteger os comboios de invasão - e do sistema de abastecimento flutuante da esquadra - que eliminava a necessidade de os porta-aviões retornarem ao porto a intervalos freqüentes. Além disso, se se deixassem intocadas as forças japonesas nas ilhas de mandato, isto exporia a proposta linha de comunicações Nova Guiné-Filipinas a poderosos ataques pelos flancos. De qualquer modo, uma arremetida pelo Pacífico Central provavelmente chegaria às Filipinas e cortaria os laços do Japão com o sul mais depressa da que uma batalha por etapas, subindo as escadas das Salomão-Bismarcks-Nova Guiné, que, sendo previsível, dava ao inimigo a oportunidade de se preparar para o ataque seguinte e envolveria uma luta acirrada. E, naturalmente em segredo, a marinha americana não gostava da probabilidade de colocar seus preciosos porta-aviões sob o controle de MacArthur, enquanto que este, por sua vez, não queria que o Comando do Pacífico Sudoeste fosse um teatro de operações subsidiário e nem que o exército fosse empregado unicamente para operações de "limpeza". A solução finalmente aceita - sobretudo na "Conferência Tridente", realizada em Washington em maio de 1943 - foi um avanço pelas duas rotas, pois isto manteria os japoneses em dúvida quanto ao local de ataque real e dispersaria as forças inimigas, além de impedir quaisquer ataques pelos flancos ou a ida de reforço das ilhas sob mandato para Rabaul - ou vice-versa. De qualquer modo, as duas rotas terminariam nas Filipinas. Tecnicamente, esta decisão foi uma derrota para as tendências monopolistas de MacArthur; estrategicamente, ela se revelaria uma decisão realmente muito sensata. Por outro lado, uma ofensiva de duas pontas assim tão vasta precisava de enormes preparativos e da existência de vários meses de relativo impasse na guerra do Pacífico, enquanto as unidades estavam sendo treinadas, bases e aeródromos estavam sendo construídos, barcaças de desembarque e navios reunidos, novas belonaves preparadas e os planos finais organizados. Foi durante este "impasse" que os Estados Unidos recuperaram as Aleútas ocidentais. Embora a impraticabilidade de grandes operações nessa área fosse óbvia a todos quantos a conheciam, ambos os lados eram extremamente sensíveis a avanços inimigos ali. A tomada pelos japoneses das ilhas de Kiska e Attu durante a operação das Midway provocou alarma nos Estados Unidos e fez o governo planejar uma contra-ofensiva imediata. Bombardeios das ilhas ocupadas pelos japoneses foram seguidos do bombardeio naval de Kiska, a 7 de agosto de 1942, da ocupação de Adak (336 km a leste de Kiska), a 30 de agosto, onde se construiu uma base aérea para ajudar num outro avanço, e da tomada de Amchitka (144 km a leste de Kiska), a 12 de janeiro de 1943. A etapa óbvia seguinte, a tomada da própria ilha de Kiska, foi evitada pelos comandantes americanos, o Contra-Almirante Kinkaid e o Major-General De Witt, porque a maior parte das suas forças navais e aéreas fora desviada para as críticas batalhas de Guadalcanal. Em vez disso, eles decidiram tomar Attu, situada ainda mais para oeste, depois que um bombardeio naval, a 18 de fevereiro, revelou sua falta de defesas. Um esquadrão americano, formado pelos cruzadores Salt Lake City e Richmond e por quatro destróieres, comandado pelo Contra-Almirante McMorris, foi despachado para bloquear Attu no mês seguinte, mas a 26 de março ele encontrou uma força inimiga mais poderosa, composta de quatro cruzadores e quatro destróieres, que escoltava três transportes com reforços para a guarnição da ilha. Este grupo, comandado pelo Vice-Almirante Hosogaya, abriu fogo quando as belonaves americanas se aproximaram, iniciando assim a luta que recebeu o título grandiloqüente de "Batalha das Ilhas Komandorski". Durante três horas e meia as forças adversárias dispararam e manobraram a longa distância, até que os japoneses romperam contato. Nenhum dos lados sofreu qualquer perda, mas como os transportes foram obrigados a voltar, pode-se dizer que foi uma pequena vitória americana. Seis semanas mais tarde, a 11 de maio, uma força, sob o comando-geral do Contra-Almirante Rockwell, desembarcou em Attu, ajudada pelo nevoeiro e apoiada por um grupo de bombardeio, posicionado ao largo da ilha, do qual participavam três couraçados. Durante duas semanas a guarnição de 2.600 homens resistiu aos 11.000 soldados da 7a Divisão de Infantaria dos Estados Unidos, embora fosse obrigada a recuar sistematicamente para as montanhas. Porém, a 29 de maio, após 24 horas de violenta luta, quando os japoneses restantes fizeram uma carga-suicida contra as posições americanas, os defensores foram quase que totalmente eliminados; somente 28 foram aprisionados, enquanto que os invasores perderam 600 homens. A captura de Attu foi o primeiro exemplo de "pular carniça" (saltar de ilha em ilha) feita pelos americanos na guerra do Pacífico. A eficácia dessa tática logo tornou-se evidente porque, com uma base aérea americana construída rapidamente em Attu, os japoneses que compunham a guarnição de Kiska foram virtualmente isolados e submetidos a freqüentes bombardeios navais e ataques aéreos. Como o QG Imperial não queria travar uma grande campanha nas Aleútas, decidiu-se abandonar a ilha e, a 28 de julho, uma força de cruzadores e destróieres evacuou em apenas 55 minutos os 5.183 soldados que ali se encontravam, sob a proteção do habitual nevoeiro. Ignorando este acontecimento, os americanos continuaram bombardeando Kiska nas semanas seguintes; e na noite de 15 de agosto cerca de 34.400 soldados (incluindo 5.400 canadenses) desembarcaram para uma infrutífera busca de cinco dias, até perceberem que o inimigo já abandonara a ilha. Assim, as Aleútas foram retomadas, o que não é de surpreender, pois os americanos destacaram 100.000 soldados e uma grande força-tarefa naval, além da Força Aérea do 11o Exército, para a área do Pacífico Norte, cuja maior parte poderia ter sido empregada com melhores resultados em outros locais. Nos Comandos do Pacífico Sudoeste e do oceano Pacífico, por exemplo, MacArthur e Nimitz estavam implorando por mais reforços antes de começar suas próprias ofensivas. Mas, embora nenhum dos dois fosse plenamente satisfeito, seus respectivos efetivos estavam começando a aumentar sistematicamente, à medida que a economia dos Estados Unidos se concentrava na produção bélica. MacArthur tinha sete divisões (três delas australianas) sob seu comando, com mais duas divisões americanas a serem enviadas e oito divisões australianas em treinamento; no Comando do Pacífico Sul, de Halsey (responsável perante Nimitz), havia quatro divisões do exército, duas dos fuzileiros navais e uma neozelandesa, com mais outra que deveria chegar pelo fim do ano. No ar, MacArthur controlava cerca de 1.000 aviões, enquanto que Halsey podia recorrer a 700 aviões do exército e 1.100 da marinha e dos fuzileiros navais. As forças navais variavam, pois, enquanto se concentrava uma esquadra anfïbia com escoltas para as duas campanhas, muitas das belonaves estavam, sob empréstimo, a curto prazo, adidas à força naval de Nimitz, em Pearl Harbor. Nessa época, Halsey tinha seis couraçados e dois porta-aviões sob seu comando. Embora se tivesse concordado quanto à estratégia-geral da organização de uma poderosa contra-ofensiva na região da Nova Guiné-Salomão, ainda restava resolver as diferenças de comando e o curso exato das operações. O primeiro problema era complicado pelo fato de que o próprio grupo das Salomão separava os Comandos do Pacífico Sudoeste e do Pacífico Sul. Por outro lado, isto também obrigava os dois líderes da campanha e seus próprios superiores a cooperar mais estreitamente do que teria acontecido, pois não havia sentido em discutirem entre si enquanto combatiam um inimigo tão formidável como os japoneses. Portanto, os Chefes de Estado-Maior Conjuntos logo concordaram que MacArthur teria o controle estratégico de toda a região da Nova Guiné-Salomão, mas Halsey teria o controle tático das Salomão, enquanto que todas as belonaves de Pearl Harbor em operação nessas águas permaneceriam sob o comando de Nimitz. O objetivo estratégico da "Operação Cartwheel" (Roda de Carro) (originariamente chamada "Watchtower" - Torre de Atalaia) era romper a barreira das Bismarcks e tomar a grande base japonesa em Rabaul. Aqui, também, os Aliados poderiam aproximar-se ao longo de dois eixos principais, pela costa da Nova Guiné e pela cadeia das Salomão, com ataques alternativos que manteriam o inimigo confuso. Esperava-se que dentro de oito meses eles estariam prontos para tomar Rabaul propriamente dita. A primeira etapa seria empreendida pelas forças de Halsey, que ocupariam as ilhas Russell, para desenvolver ali uma base aérea e naval avançada. Então, as forças de MacArthur atacariam, tomando a ilhas de Woodlark e Kiriwina, no grupo das Trobriands, que seria uma base aérea e um ponto de parada entre os dois teatros de operações. Após estas ações preliminares, Halsey atacaria as ilhas da Nova Geórgia, para tomar a importante pista de pouso de Munda, enquanto que o Comando do Pacífico Sudoeste faria um grande avanço para expulsar os japoneses dos seus pontos fortes da Nova Guiné: Lae, Salamaua, Finschhafen e Madang. Nesse momento, as forças do Pacífico Sul já teriam passado para as ilhas Shortland e, depois, para o sul de Bougainville. A penúltima ação dos dois avanços seria a neutralização de Buka, pelo Comando de Halsey, e a tomada do cabo Gloucester, bem como da própria Nova Britânia, pelo Comando de MacArthur. Surpresa, rapidez e sincronização seriam fatores essenciais, mas os dois comandantes eram famosos pelo seu vigor e impetuosidade. Também os japoneses estavam reunindo suas forças e reexaminando sua estratégia nos meses subseqüentes à desastrosa campanha de Guadalcanal. Após um longo e custoso período de alternação de prioridades no Pacífico Sudoeste, entre a Nova Guiné e as Salomão, decidira-se dividir aqueles teatros de operações em duas partes, com o 18o Exército encarregado da defesa da primeira e o 17o Exército da segunda, ambos sob o controle do 8o Exército de Área (General Imamura), baseado em Rabaul. Contudo, o exército ainda tendia a preferir a campanha da Nova Guiné, por considerar que aquela grande ilha era um amortecedor essencial para as Índias Orientais Holandesas e as Filipinas. Mas a marinha, com igual lógica, desejava dar prioridade à área Salomão-Bismarcks, pois a vitória ali abriria a grande base naval japonesa em Truk, nas Carolinas, a ataques aéreos americanos. Como o exército levava vantagem no QG Imperial, porém, uma diretiva datada de 25 de março de 1943 declarou que se deveria dar prioridade à Nova Guiné. Na verdade, a marinha assumiu a principal responsabilidade pela defesa das Salomão e o exército fez o mesmo com relação à Nova Guiné, concordando-se que a linha defensiva geral deveria ir desde Lae, na costa da Nova Guiné, até Isabel e Nova Geórgia, nas Salomão. O certo é que cada frente seria ferozmente defendida. Por outro lado, as forças japonesas eram muito inferiores às dos Aliados. Havia três divisões (55.000 homens) na Nova Guiné e duas divisões, uma brigada e outras unidades (25.000 homens) nas Salomão; as 6a e 7a Divisões Aéreas, respectivamente anexadas a cada comando, só dispunham de 170 aviões, ao passo que a 11a Frota Aeronaval podia fornecer mais 240, pois as perdas na campanha de Guadalcanal haviam sido muito grandes; as forças navais compreendiam apenas cruzadores e destróieres, embora se pudesse recorrer rapidamente a belonaves maiores, em Truk. É verdade que, em seis meses, a área poderia ser reforçada por 10 ou 15 divisões, mais de 850 aviões e toda a marinha japonesa, tornando, portanto, uma operação de contenção bastante viável - mas, para que tal operação se constituísse em sucesso, era imperioso que houvesse tenacidade, flexibilidade de raciocínio e que os reforços fossem obtidos assim que se fizessem necessários. Independente do que acontecesse, parecia que o Japão já perdera a supremacia aérea nesta região: mas todos reconheciam que esta era o elemento essencial na guerra do Pacífico. Mesmo no período do chamado impasse, houve considerável ação no Pacifico Sudoeste, sobretudo ação aérea. Já a 21 de fevereiro de 1943, as forças de Halsey passaram de Guadalcanal para as ilhas Russell, embora isto não passasse de apenas um exercício, pois os japoneses as haviam abandonado muito antes que os 9.000 soldados americanos nelas desembarcassem. Muitas vezes havia escaramuças navais na "Fenda", as águas muito disputadas que banham a cadeia das Salomão, e na noite de 6 de março, dois destróieres japoneses foram afundados por seus equivalentes americanos. Houve uma grande luta na frente da Nova Guiné, onde os japoneses decidiram aliviar a pressão que sofria capturando a base aérea em Vau, defendida apenas por uma guarnição australiana, chamada "Força Kanga". Ali, porém, os Aliados demonstraram sua superioridade aérea, despachando de avião a 17a Brigada australiana para a cidade, a fim de repelir o inimigo, ação esta que de tal forma alarmou Imamura, que ele ordenou que o resto da 51a Divisão de Infantaria fosse transportada para a região do Golfo de Huon o mais depressa possível. A 28 de fevereiro, oito navios, transportando quase 7.000 soldados e escoltados por oito destróieres, zarparam de Rabaul; um dia depois, porém, eles foram avistados por um avião de reconhecimento americano, sendo então atacados por 207 bombardeiros e 129 caças do grupamento aéreo do Tenente-General Kenney, estacionado na Nova Guiné. Quase que ignorando os fracos esforços japoneses para proteger o comboio, esses aviões "bombardearam por ricochete" e metralharam os navios de transporte de tropas durante 48 horas, afundando todos eles, além de quatro destróieres, morrendo ali mais de 3.600 soldados nipônicos. Após esta "Batalha do Mar de Bismarck", o 8° Exército de Área foi obrigado a usar apenas submarinos, ou pequenas barcaças, para transportar homens e suprimentos nas águas da Nova Guiné. O desastre ocorrido com este comboio fez o Comandante-Chefe Naval, Almirante Yamamoto, compreender que se o Japão não recuperasse imediatamente a supremacia aérea, ele perderia não só o Pacifico Sul, mas, também, a guerra. Assim, de despachou 300 aviões, dos porta-aviões da 3a Esquadra, de Truk para Rabaul, com ordens de atacar as bases aliadas e provocar batalhas aéreas em grande escala, para permitir ao Japão tomar o controle do ar. Esta "Operação I", como era chamada, iniciou-se a 1o de abril, com uma série de ataques a Guadalcanal, passando depois para a Nova Guiné, ainda no mesmo mês. O plano elaborado para provocar batalhas aéreas teve êxito, mas Yamamoto foi iludido pelos relatórios extremamente exagerados dos seus pilotos, que o levaram a pensar que as forças aéreas inimigas haviam sido dizimadas; na verdade, os Aliados perderam 25 aviões e os japoneses, 42, o que fez pender ainda mais a balança estratégica em favor das forças americanas. Enquanto estava na região investigando o desenrolar da operação, Yamamoto decidiu visitar Bougainville, sendo descoberto pelo Serviço de Inteligência e de Decifração dos Estados Unidos. Preparou-se para ele uma emboscada e, a 18 de abril, o seu avião foi atacado por 18 caças Lightnings, que cobriram mais de 1.000 km para alcançar o ponto de interceptação. Mergulhando por entre os aviões de escolta, os Lightnings derrubaram o avião de Yamamoto; o almirante e a tripulação tiveram morte instantânea, quando o aparelho caiu na selva. Os corpos foram recuperados e as cinzas do almirante foram sepultadas em Tóquio, numa cerimônia realizada perante uma multidão de cidadãos. Para substituí-lo, foi designado o Almirante Koga, que se revelaria um substituto medíocre. O Japão perdera seu líder mais lúcido exatamente quando os americanos se preparavam para montar sua enorme contra-ofensiva de duas pontas pelo Pacífico. |
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