Origens da Guerra do Pacífico
A guerra no Extremo Oriente já cumpria o seu quinto a no quando Pearl Harbor foi atacada, na manhã de 7 de dezembro de 1941, por aviões japoneses. Embora se constituísse num choque tremendo para a maior parte do mundo, este ato não foi mais, de certa maneira, que a extensão, embora ampla, de um conflito que se vinha expandindo. Na verdade, em vista dos acontecimentos que precederam este ataque, e evidente que a destruição da Esquadra Americana do Pacífico não passava da conseqüência militar lógica de uma luta muito maior, que entrara num impasse nas colinas e vales fluviais da China. A guerra do Pacífico - é assim que os ocidentais gostam de chamá-la - era um efeito colateral da guerra sino-japonesa que começara em julho de 1937.
As origens dessa luta remontam ao século XIX ao período posterior à restauração Meiji de 1868, quando o Japão se transformou, de estado feudal, num país moderno e altamente industrializado. Tendo por modelo os mais desenvolvidos centros ocidentais, não era de surpreender que os japoneses quisessem ir mais longe, quisessem obter possessões além-mar, tal como as potências imperialistas haviam feito. Surgiu, contudo, uma dificuldade, pois essas potências não estavam lá dispostas a consentir na entrada do pele-amarela em seu clube muito exclusivo e compartilhar o privilégio que esperavam obter para si mesmas na Ásia. Em 1894/95, o Japão combateu e derrotou uma China mais fraca e mais atrasada e tentou anexar partes importantes dos seus territórios costeiros; mas, devido à pressão da Rússia, França e Alemanha, teve que ser devolvida aos chineses grande parte das terras tomadas. Em 1904, alarmando-se com as penetrações que os russos faziam na Manchúria, o Japão desfechou um ataque de surpresa contra a Esquadra do Extremo Oriente do Czar, que estava ancorada em Port Arthur, para no ano seguinte derrotar o exército russo em Mukden e aniquilar a esquadra russa em Tsushims, obrigando, desse modo, o inimigo a buscar a paz. Metamorfoseado em potência digna de respeito, sem a cooperação dos nipônicos, nada poderia ser feito no Extremo Oriente; além disso, o japonês conseguira demonstrar que o branco podia ser derrotado.
Mas, para o japonês, os ganhos dessa guerra mal tinham servido para lhe satisfazer a sede de prestígio e o senso de poder, ou prover mercados e matérias-primas suficientes para as suas indústrias, em rápido crescimento. Comparados com os ricos impérios de outras nações, os territórios nipônicos de além-mar eram insignificantes. Além disso, embora industrialmente adiantado, o Japão vivia em estado ainda meio feudal, onde o Imperador era considerado divino e onde o exaltado era o guerreiro, e não o homem de negócios. As forças internas que pressionavam para a expansão eram muito poderosas e o exército gozava de grande influência política, enquanto que as bases para a democracia permaneciam fracas. Embora fizesse o Japão outros ganhos em 1914, quando, interpretando liberalmente as obrigações que assumira ao assinar com a Grã-Bretanha uma aliança, em 1902, tomou ele para si o que a Alemanha possuía no norte da China, bem como as ilhas Marshall; as Carolinas e as Marianas no Pacífico, ainda assim a ambição dos nipônicos não ficou saciada. Acreditando que as outras potências estavam por demais empenhadas na guerra européia para se preocuparem com acontecimentos no Extremo Oriente, o Japão fez suas “Vinte e Uma Exigências” à China, que lhe dariam virtual predominância naquele império decrépito. Alarmados, porém, com esses acontecimentos, Grã-Bretanha e Estados Unidos de tal forma o pressionaram, que em 1915 o plano nipônico foi abandonado. Naturalmente, o desejo de dominar a China, para o Japão considerada área natural para exploração, não foi eliminado, mas apenas contido. Na verdade, poder-se-ia dizer que o desejo de fazer da China um grande império talvez fosse o objetivo principal da política externa e militar do Japão nos cinqüenta anos subseqüentes a 1894.
Além disso, a crise provocada pelas “Vinte e Uma Exigências” determinara o grande alinhamento político do futuro: a Grã-Bretanha juntou-se aos Estados Unidos, ambos interessados na preservação da independência da China - e o nipônico ansioso por eliminá-la. O “Tratado de Versalhes”, assinado em 1919, confirmou o domínio dos japoneses das ex-colônias alemãs, mas não alterou o estado de coisas vigentes, pois os japoneses ainda se sentiam desprovidos, e os americanos, alarmados, porque, passando os japoneses ao domínio daquelas possessões do Pacífico, as Filipinas se isolavam do Havaí. Planos e cálculos de guerra já estavam sendo feitos e o Japão tornou-se para os Estados Unidos o seu grande inimigo potencial, enquanto que estes entravam no planejamento naval dos nipônicos igualmente como o grande alvo. Por outro lado, o exército japonês sempre temera mais a Rússia Soviética, cujas grandes forças na Ásia eram consideradas uma ameaça muito maior aos desígnios continentais de Tóquio.
Durante os anos vinte, vários acontecimentos afastaram ainda mais o Japão das potências ocidentais. A Grã-Bretanha, fortemente pressionada pelos Estados Unidos, aboliu a aliança anglo-japonesa em 1921. Três anos depois, os britânicos decidiram construir uma base naval em Cingapura. Além disso, as conferências navais diplomáticas internacionais realizadas em Washington em 1922, que fixaram bases inferiores para a esquadra japonesa em relação à esquadra britânica e à americana, na proporção de 3:5:5, persuadiram Tóquio a entregar, não sem relutância, a província de Shantung aos chineses e garantiram a manutenção do status quo político e militar no Extremo Oriente. Afinal, os Estados Unidos fecharam as portas a todos os imigrantes japoneses em 1924. Tudo isto parecia indicar que as potências anglo-saxônicas estavam-se “alinhando” contra o Japão, para impedir o desenvolvimento da política expansionista que ele vinha adotando. Os políticos liberais que negociaram esses acordos em Washington seriam violentamente atacados pelos militares nos anos seguintes. Não obstante, o tratado impedia que outras nações construísse, bases no Pacífico e ampliassem suas marinhas. O Japão, no entanto, começou a desrespeitar secretamente o convencionado nos acordos no tocante ao tamanho dos navios e a sua potência de fogo - preparando-se para o conflito - acabando por rejeitá-lo inteiramente em 1934.
Os japoneses, em particular, foram seriamente atingidos pela crise econômica mundial de 1929, que provocou muito desemprego e descontentamento interno. Nessas circunstâncias, o poder dos militaristas cresceu, enquanto que os políticos liberais eram desacreditados e até mesmo assassinados por extremistas. Além disso, a ala jovem dos oficiais do exército, condicionada convenientemente, mostrava-se tão ansiosa por ação, que nada a podia deter.
Em setembro de 1931, soldados japoneses que guardavam as ferrovias do tratado na Manchúria invadiram Mukden e passaram a conquistar o resto do país, afirmando que estavam agindo em legítima defesa, contra a ameaça de ataque chinês. Como o estado-títere de Manchuhuo, como a Manchúria seria chamada daí por diante, criado rapidamente, não foi reconhecido pela Liga das Nações nem pelos Estados Unidos, o Japão abandonou a Liga em 1933. Encorajado pela falta de oposição física e pela subida ao poder dos nazistas no mesmo ano, o exército podia planejar maior expansão. Foi neste período que a idéia da “Grande Esfera de Co-Prosperidade do Leste Asiático”, que na verdade significava o domínio japonês do Leste da Ásia e do Pacífico Ocidental, começou a ser largamente divulgado.
Em julho de 1937, o exército invadiu o norte da China propriamente dita, afirmando que também isto era feito em resposta a ataques chineses. Embora jamais fosse chamada de guerra - os japoneses preferiam denominá-la “Incidente Chinês” - a campanha logo assumiu enormes proporções. Na verdade, a guerra no Extremo Oriente começara. Na luta por Xangai e Nanguim, os japoneses tiveram 21.300 mortos e mais de 50.000 feridos, enquanto que as baixas chinesas elevaram-se a mais de 367.000. Pelo final daquele ano, cerca de 700.000 soldados japoneses estavam lutando na China, subindo para 850.000 ao se aproximar o fim de 1939. Ademais, a tarefa mostrara-se muito mais difícil do que se calculara. Os chineses recusavam-se a render-se, mudando continuamente a capital do país cada vez mais para o interior, instalando-a finalmente na distante Chungking. Entretanto, à medida que os japoneses penetravam para o sul e para o oeste, suas baixas aumentavam de maneira alarmante, enquanto que os chineses, embora sofrendo mais ainda, possuíam reservas efetivamente inesgotáveis de potencial humano. Essas operações, de âmbito sempre crescente, serviam apenas para revelar as fraquezas do Japão em munições de desviar tropas do Exército de Kwantung, que tinha a tarefa vital de defender a Manchúria contra a penetração russa. O que mais irritava o nipônico era a ajuda dos russos aos comunistas chineses e a que as potências ocidentais, através dos portos chineses ou da Estrada da Birmânia, davam ao governo nacionalista. Muitas vezes incapazes de balizar as próprias deficiências, os japoneses pendiam cada vez mais para crer que a China seria derrotada se lhes fosse possível isolá-la da ajuda material e moral que recebia de nações estrangeiras. Isto implicava a eliminação dos interesses estrangeiros e a tomada ou o bloqueio da costa, o que foi feito em 1937 e 1938, e o fechamento da Estrada da Birmânia.
Acontecimentos verificados em outros locais e a habilidade diplomática impediram que se estabelecesse o estado de beligerância com a Rússia, apesar de violento choque ocorrido na fronteira manchuriana, em torno de Nomonhan, em agosto de 1939, no qual o Japão perdeu 11.000 homens em combate com blindados soviéticos. A assinatura do pacto de neutralidade que a Rússia e Japão vieram a assinar a 13 de abril de 1941, embora não eliminasse as suspeitas do Japão sobre os desígnios russos na Ásia, permitiu aos nipônicos liberar forças para operações ao sul. Além disso, a guerra na Europa, anulando, por assim dizer, a possibilidade de a Grã-Bretanha operar no Extremo Oriente e, depois de 1940, silenciando a França, deu ao nipônico a quase certeza de que os Estados Unidos não se atreveriam a intervir, sobretudo após a assinatura do “Pacto Tripartite”, entre Japão, Alemanha e Itália, em setembro de 1940, segundo o qual as três potências se oporiam a qualquer nação que viesse a juntar-se aos Aliados.
Esses acontecimentos alarmaram seriamente o governo americano. O governo de Washington há muito considerava o Japão a maior ameaça à paz na Ásia, mas não havia muito o que Roosevelt pudesse fazer quanto à agressão à China, exceto entrar em guerra, atitude que o isolacionismo de seu povo o impedia de tomar e a preocupação com os desígnios de Hitler punha fora de cogitação. Já em 1938, se haviam realizado debates, nos Estados-Maiores anglo-americanos, sobre o Extremo Oriente, quando os britânicos se mostravam ansiosos por evitar um conflito, se tal fosse possível. Não obstante, a tentativa levada a cabo pelos nipônicos de aumentar a pressão sobre os chineses, ocupando a Indochina francesa em julho de 1941, medida relutantemente aceita pelo governo de Vichy, obrigou afinal as potências ocidentais a agir. Quase que imediatamente, o governo americano, seguido pelo britânico e pelo holandês, congelou o fornecimento de petróleo ao Japão.
Em termos de atitudes decisivas, esta foi talvez a mais importante. Durante anos, o Japão vinha estendendo-se regularmente para o sul, em seus esforços para conquistar a China; mas, sem petróleo para acionar suas indústrias e mover seus exércitos, em breve ele entraria em colapso, anulando todos os esforços feitos naquele sentido. Um levantamento feito em 1941 revelou que, a menos que o embargo fosse levantado, suas pequenas reservas de petróleo se esgotariam antes dos três anos previstos para que suas vinte divisões dobrassem definitivamente a China. A única saída estava na tomada dos campos petrolíferos das Índias Orientais Holandesas, que tinham capacidade para atender a todas as necessidades do país. Mas isto significava, ampliar grandemente a escalada da guerra. As alternativas para o Japão eram violentas: ou abandonar suas ambições na China e em outros locais, o que provavelmente levaria a uma resolução de direita no país, ou tomar os campos petrolíferos e lutar contra as potências ocidentais. Prolongadas negociações com os americanos seriam de todo inúteis, pois simplesmente levariam ao enfraquecimento progressivo do poderio militar e industrial do Japão - e o tornariam menos capaz de resistir à pressão americana. Dadas as questões em jogo na China, a mentalidade dos líderes do exército e a determinação de não perder “prestígio”, dificilmente se pode considerar surpreendente a decisão dos japoneses de irem à guerra. Certo que foi ingenuidade dos Aliados esperarem solucionar pacificamente a disputa através do embargo.
Assim, a necessidade imediata de tomar os campos petrolíferos holandeses, para garantir a vitória na China, fundiu-se a idéia da formação da “Esfera de Co-Prosperidade” e, da fusão, formulou-se a estratégia de guerra do Japão. Numa série de golpes rápidos, ele planejava conquistar Hong-Kong, Tailândia, Malásia, Birmânia, Índias Orientais Holandesas, Filipinas, Nova Guiné e vários grupos de ilhas do Pacífico. Só então é que a China seria completamente isolada dos países que a ajudavam, enquanto que o Japão teria petróleo suficiente para poder continuar combatendo Chiang Kai-shek sem medo de interrupção. Poucos japoneses pararam para pensar no enorme potencial do país que se preparavam para agredir, potencial dez vezes maior que o do Japão, mas, os que o fizeram, calcularam que se fosse possível erguer rapidamente uma formidável “Festung Nippona” que fosse invulnerável a todos os contra-ataques, os americanos viriam a reconhecer as conquistas do Japão. A Grã-Bretanha estava por demais enredada na Europa e no Oriente Médio, enquanto que a Rússia lutava pela própria vida, após a invasão alemã de junho de 1941.
Não obstante, a guerra começou em julho. Enquanto o embaixador nipônico em Washington tentava persuadir Roosevelt a levantar o embargo, as autoridades japonesas preparavam suas tropas e selecionavam a estratégia. O advento do governo do General Tojo, em outubro, que substituiu o Príncipe Konoye, e a notícia de que os estoques de petróleo haviam diminuído um quarto, desde abril, provavelmente foram os fatores decisivos, pois também se tornara claro que os americanos estavam apenas tentando manter as conversações, enquanto despachavam reforços para as Filipinas e observavam o efeito do embargo. Somente nos últimos meses de 1941 é que ficou decidido o ataque a Pearl Harbor; mas se as discussões em Washington viessem, por milagre, a obter êxito, as forças atacantes teriam de ser chamadas de volta.
Os planos de guerra finais do Japão contemplavam ataques à Pearl Harbor, ao Sião e à Malásia Setentrional, seguidos de incursões aéreas contra os aeródromos de Luzon, as ilhas de Guam, Wake e as Gilbert; a invasão de Hong-Kong e desembarques nas Filipinas e Bornéu, todos como operações de primeiro estágio. No segundo estágio, o resto da Malásia e de Cingapura seria tomado, assim como o Arquipélago Bismarck, a Birmânia Meridional e pontos estratégicos nas Índias Orientais Holandesas. Na terceira e última série de operações, o território deste último país seria completamente ocupado, assim como toda a Birmânia e certos grupos de ilhas no Oceano Índico. Esperavam os nipônicos completar todo o conjunto de operações em 150 dias, a partir do início das hostilidades. Então, o exército poderia retornar à tarefa principal, isto é, submeter os chineses, enquanto era construída uma rede defensiva concêntrica nas ilhas do Pacífico, para rechaçar eventuais contra-ataques americanos.
Embora sem acreditar que os japoneses viessem a tentar a concretização do desejo de se expandir no Extremo Oriente, a despeito das advertências dos peritos locais, de que isto aconteceria logo e repentinamente, como aconteceu, as potências ocidentais também estavam preparando planos. Os holandeses ajudariam em qualquer esforço que visasse a preservar o status quo na área, ao passo que os britânicos esperavam que Cingapura pudesse resistir até que reforços mais consideráveis fossem despachados para lá. Também os americanos visualizavam uma operação de fixação, que previa o recuo de suas tropas das Filipinas para a península fortificada de Bataan, entregando todas as outras posições onde necessário, e lá aguardariam a chegada da Esquadra do Pacífico e reforços do exército. Contudo, em agosto de 1941, decidiu-se repentinamente defender não só uma parte de Luzon, mas também as Filipinas, por ser politicamente melhor (e o comandante, General MacArthur, se opunha a qualquer retirada), porque o envolvimento da Alemanha na Rússia encorajou Roosevelt a tomar uma posição mais firme no Oriente e porque se esperava que os novos bombardeiros B-17, de longo alcance, detivessem quaisquer forças invasoras. Contudo, os americanos ainda estavam despachando aviões e soldados às pressas para as Filipinas quando a guerra estourou.
A balança das forças no Extremo Oriente pendia claramente para o lado japonês. Os aviões, como as campanhas da Noruega e de Creta haviam mostrado, eram vitais em operações anfíbias, e o Japão podia desenvolver 700 aviões do exército e 480 navais, de primeira linha, que operariam de Formosa. Havia também os 300 aviões envolvidos no ataque a Pearl Harbor, liberados da tarefa de cobertura das operações meridionais depois que o raio de ação dos aviões Zero, baseados em Formosa, foi aumentado, para permitir-lhes vôos de ida e volta entre Formosa e Filipinas. Os americanos tinham 307 aviões (incluindo 35 B-17) nas Filipinas; os britânicos tinham 158 na Malásia e 37 na Birmânia e os holandeses, 144 nas Índias Orientais. Mas os números apenas simplesmente ocultam a verdadeira história; os aviões aliados eram na maioria velhos e obsoletos, não podendo, portanto, competir com o formidável Zero. Os efeitos dos problemas econômicos verificados nos anos que ficaram entre os dois últimos conflitos fizeram-se sentir também nesse campo.
O mesmo é válido do lado naval. O Japão possuía 10 navios de linha para 11 aliados, mas ele tinha muitos vasos mais novos e mais bem armados. Em cruzadores, destróieres e submarinos, os dois lados estavam equilibrados, mas o número de porta-aviões, a arma vital numa campanha basicamente marítima, o Japão tinha 10 e os aliados contavam apenas 3. Importantíssimo, porém, é que as forças japonesas não seriam centralmente controladas e não sofreriam dificuldades de comando e de língua. Ademais, as esquadras britânicas e americanas distavam 9.600 km uma da outra e não eram bem treinadas em luta noturna.
Com respeito às forças de terra, o quadro era também deprimente. Os britânicos tinham uns 134.000 soldados na Malásia, Hong-Kong e Birmânia; os holandeses, cerca de 65.000 nas Índias Orientais, e os americanos, em torno de 140.000 nas Filipinas. Mas 40.000 homens das forças holandesas e 110.000 das americanas eram, na verdade, milícias nativas locais e muitos dos soldados britânicos não tinham adestramento adequado, ao passo que a maioria das forças de defesa malaias e birmanesas se formava de nativos ou indianos. Havia poucos tanques e, pior ainda, poucos comandantes bons. Por outro lado, o Japão decidira arrojadamente empregar apenas 11 das suas divisões de infantaria nesse grande jogo e manteve forças muito maiores na China (22 divisões) e na Manchúria (13 divisões) - uma boa indicação das prioridades do exército. Provavelmente menos de 250.000 soldados combatentes foram usados nas operações do sul, mas mudaram-nos de posição tantas vezes, que é difícil obter-se números corretos. Na realidade, porém, os japoneses tinham uma possibilidade muito melhor do que o equilíbrio dos números parecia indicar, pois o controle aéreo e naval lhes daria superioridade local, além de seus soldados terem levado para o confronto melhor treinamento de luta na selva e noturna. De modo geral, os nipônicos contavam com uma força muito mais moderna, bem treinada e equipada, com líderes melhores, um comando unificado e a vantagem do elemento surpresa. O único perigo poderia advir da Esquadra Americana do Pacífico, e eles supunham poder cuidar disso. Finalmente, dever-se-ia notar que, embora o Serviço de Inteligência japonês fosse bom, devido ao cuidadoso estudo das áreas que planejavam atacar, os americanos contavam com a grande vantagem de poder ler o código diplomático japonês, uma vez que havia sido decifrado pelo Coronel William Friedman em 1940. O problema , porém, residia em saber se a informação devidamente decifrada poderia ser aplicada a tempo no lugar certo.
Durante todo o final do outono de 1941, as negociações em Washington prosseguiram, embora logo se tornasse evidente que os Estados Unidos não reconsiderariam a decisão que levou ao embargo até que o Japão abandonasse as ambições expansionistas. Premido pelos militares, o governo japonês estabeleceu que a decisão final para a guerra seria tomada a 25 de novembro; três dias antes, a força de ataque a Pearl Harbor se reuniu na Baía de Tankan, nas Kurilas, enquanto Tojo encorajava os duvidosos com o argumento de que “em lugar de aguardar a extinção, seria melhor enfrentar a morte, rompendo o anel que nos cerca, para encontrar um caminho para a existência”. Sabia-se que os britânicos e americanos reforçavam suas bases no além-mar, enquanto os efeitos do embargo petrolífero se faziam sentir cada vez mais fortemente. Afinal, a 26 de novembro, os americanos, em resposta às gestões dos nipônicos feitas no sentido de obter deles mais compreensão para o problema, enviaram-lhes uma nota trocando a suspensão do embargo pela retirada das tropas japonesas da China.
Com isto, ambos os lados (pois os americanos estavam lendo as mensagens diplomáticas japonesas) compreenderam que chegara o fim. No dia seguinte, os americanos enviaram um sinal de “aviso de guerra” aos seus comandantes no Pacífico. Mesmo antes disso, a força-tarefa que atacaria Pearl Harbor já havia partido, embora os Aliados o ignorassem. Numa conferência realizada em Tóquio no dia 27, decidiram-se os nipônicos pela guerra. O embaixador em Washington foi informado de que as negociações seriam “interrompidas de fato”, mas ordenaram-lhe que não desse a impressão de que tudo estava terminado. Uma Conferência Imperial realizada a 1o de dezembro, com a presença do Imperador, simplesmente confirmou o que já estava concertado. Os comandantes das forças invasoras foram informados de que a guerra começaria no dia 8 (hora de Tóquio). (A apresentação de datas envolve certa complicação no âmbito internacional, pois enquanto em Washington e no Havaí transcorria o domingo, dia 7 de dezembro, em Tóquio e na Malásia já era segunda-feira, 8 de dezembro. As diferenças de zona também são consideráveis, porquanto as várias ações realizadas no começo da guerra abrangeram extensão imensa do globo. Todos os ataques tiveram lugar de manhã bem cedo, hora local, e entre 15:15 h e 19:00 h, hora média de Greenwich (exceto em Hong-Kong; 23:30 h, HMG). Os alemães e italianos receberam fortes insinuações da ação e responderam prometendo que também se intrometeriam contra os Estados Unidos; mensagens decifradas revelaram que a maioria dos membros da embaixada japonesa em Washington recebera ordens de partir para o Japão e que os códigos deveriam ser destruídos. No dia 4, a rádio japonesa transmitiu a mensagem “Vento Leste, Chuva”, significando que a ruptura de relações com os Estados Unidos era iminente; o Serviço de Inteligência Britânico informou que grandes comboios escoltados estavam rumando para o sul no dia 6. Evidentemente, a sorte fora lançada. Só restava saber onde se daria o golpe.
Faltava um toque final. Embora os líderes militares nipônicos quisessem vibrar o ataque inteiramente de surpresa, o Ministro do Exterior japonês insistiu para que fosse feito um aviso formal e prévio do início da guerra. Saindo para um meio-termo, decidiram enviar uma resposta, contendo quatorze pontos, ao Departamento de Estado, às 13:00 h do dia 7 (hora de Washington), que seriam 7:30 h no Havaí. Enquanto essa nota tivesse sendo lida, os aviões japoneses estariam sobrevoando Pearl Harbor. Contudo, a tentativa de preservação das sutilezas diplomáticas fracassou. Devido ao tamanho da mensagem e à lentidão da embaixada em decifrá-lo, os ataques à esquadra americana já tinham começado quando os enviados japoneses se reuniram com o Secretário de Estado, Hull. O Japão, em geral pouco atento às disposições do direito internacional, quando este atrapalhava os seus interesses militares, violara-o novamente, a despeito da hipócrita manifestação de querer manter-se dentro de seus limites. Este foi, sem dúvida, o primeiro fracasso que o Japão colheu na Guerra do Pacífico |
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