quarta-feira, 1 de junho de 2011

a invasao da Holanda

Cidade destruída


A Holanda viveu por detrás de uma cortina de neutralidade durante mais de um século. Nascida no período da Guerra dos Oitenta Anos, suportou impavidamente o conflito com uma série de inimigos durante a maior parte de sua história inicial. Foi bem sucedida em relação à Espanha Imperial, apesar das imensas adversidades, e acabou por conquistar a independência. Esta e mais as riquezas de novo império colonial que lhe vieram após, tiveram de ser valentemente defendidas em várias ocasiões contra muitos inimigos, às vezes novamente a Espanha, que se ligava a outros, depois a Inglaterra e, em seguida, a França. Os holandeses sempre resistiram, embora nem sempre fossem bem sucedidos, mas pelo menos conseguiram manter sua independência e o acesso ao mundo exterior, através do poderio marítimo. No entanto, mais de dois séculos de guerra tiveram como conseqüência a conquista da Holanda durante a Revolução Francesa, dando-se então a destruição do mito de que aquele país era indestrutível. A princípio estabeleceu-se uma independência fictícia como títere da França, para começar, como uma república - mais tarde monarquia regida pelo irmão de Napoleão - mas por fim esclareceu-se a verdadeira situação: em 1811 a Holanda foi integrada definitivamente ao Império Napoleônico. Quando este soçobrou e a Holanda foi libertada, os Países Baixos, ora ampliados com a adição da Bélgica e do Luxemburgo, abandonaram todas as aspirações de virem a ser grande potência e satisfizeram-se se portar como estado-tampão próspero entre uma Prússia que ressurgia e a França.

Como a própria Bélgica, cuja secessão da União em 1830 não foi de todo benéfica, o pequenino estado holandês esperava consolidar sua posição internacional optando pela neutralidade. Enquanto as guerras de unificação alemã e italianas transtornavam o equilíbrio europeu pelo poder no século XIX, os países Baixos mantiveram-se alheios, burgueses, conservadores e, sobretudo, a salvo de intervenção estrangeira. Embora a Primeira Guerra Mundial mostrasse abertamente aos belgas que a neutralidade não era garantia alguma contra um invasor implacável, os holandeses tiveram a sorte de se livrar do conflito, sofrendo apenas certas privações quando o bloqueio britânico do continente tornou-se mais eficaz nos últimos 18 meses do conflito. Pouco se fez no tocante à defesa; tendo-se argumentado que ela era dispendiosa demais, e desnecessária. Pois a guerra não fora evitada sem custosas despesas? O destino da Bélgica, ocupada e arrasada durante quatro anos, não causou grande impacto sobre as atitudes dos holandeses, muito embora ele soubessem ver e ouvir a guerra, da segurança dos seus lares, se viviam nas proximidades da fronteira daquele país.

No decorrer dos anos 20 a Alemanha foi dócil, militarmente fraca e destroçada pelo desemprego e pela inflação, e a Holanda, apenas pequenina parte do orçamento foi gasta com sua defesa. Quando Hitler subiu ao poder, embora o perigo para a segurança holandesa fosse evidente, não se gastou na defesa muito mais do que nos anos 20. Havia uma suposição não-escrita, quase não-falada, de que sobrevindo nova guerra, na Europa, a Holanda, de algum modo, ficaria alheia, protegida em sua neutralidade, como o fizera antes. Esta ilusão foi destruída a 10 de maio de 1940, quando levas de aviões despejaram bombas e pára-quedistas saltaram num estado de todo despreparado para a guerra, não só militar como também psicologicamente. Como aconteceu em outras democracias ocidentais, as vozes da razão que haviam pedido repetidamente rearmamento e aliança com seus aliados naturais, Inglaterra e França, foram ignoradas. A destruição de uma das suas maiores cidades, Roterdã, foi um choque ainda maior que a própria invasão. Em cinco dias, a Holanda perdeu sua independência. Roterdã, que os alemães bombardearam por engano, jazia em ruínas, juntamente com a política de neutralidade da Holanda.

Guilhermina Steenbeek, que passou por esse holocausto da guerra e da ocupação, descreve como se deu a invasão da sua pátria despreparada e os horrores provocados pelo bombardeio da sua cidade natal. Nenhum holandês que passou pela Segunda Guerra poderá jamais esquecer a repentina violência da Blitzkrieg ou a destruição brutal e desnecessária de que foi vítima uma das suas maiores cidades. Das cinzas da guerra surgiram uma nova Roterdã e uma nova Holanda, mas as lições da guerra foram aprendidas por preço muito alto. É pouco provável que o povo holandês retorne a uma neutralidade de avestruz, que não oferece como ficou provado defesa alguma contra um agressor predatório.

As bombas alemães destruíram uma grande cidade, mas nada pôde destruir o coração de seu povo. Roterdã Redux continua viva. Seu grande coração espiritual reconstruiu Roterdã dos escombros da guerra, um símbolo da Holanda e de uma Europa renascentes.

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